Pastorcentrismo.

O pastoreio é uma das funções ministeriais mais sublimes que o Senhor Jesus Cristo deixou para o bom andamento de sua Igreja. De todos os ofícios eclesiásticos citados na Bíblia como; presbítero, evangelista, diácono e outros, posso dizer sem medo e incoerência textual que o pastoreio é um dos mais preciosos; o próprio Senhor Jesus comparou-se a um bom pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas.(Jo 10:11).
A Bíblia diz que devemos seguir o exemplo de Cristo nas boas obras, e isto deve ser algo observado principalmente por aqueles que são chamados para guiar o seu povo. Infelizmente tem sido um desastre a observância de tais características por parte de alguns pastores. Há na Bíblia uma série de qualidades que identificam um homem chamado para o pastoreio, mas elas não têm sido observadas. Não estamos mais encontrando pastores nem um pouco indulgentes, ou seja: clementes, misericordiosos e tolerantes.
Tais desacordos eclesiásticos me fizeram lembrar de um fato ocorrido com um irmão no principio de 2003. Este irmão conta que dois anos após a sua conversão em 1991, sentira o desejo de cooperar na obra do Mestre. Iniciou então um período de orações pedindo ao Espírito uma confirmação dos seus anseios; tal resposta veio através do seu então pastor e desde aquele instante tem feito a obra do Senhor com dedicação. Ao longo do tempo vieram saberes e experiências das mais variadas possíveis; foram treze anos fazendo a obra de Deus entre alegrias, tristezas, frustrações, e é claro, muitos frutos. Más em 2003, uma dessas tristezas vieram com uma dose de força que este irmão não conseguiria suportar; levando-o então passar por problemas psicossomáticos. A causa de seus males foi anseios espirituais frustrados, pois pela terceira vez fora anulado a consagração do seu oficio diaconal. Mais acredite, ele não fizera nada que fosse suficientemente justificável o ato de anulação praticado pelo seu então pastor; o que se sabe é que o irmão fora ao templo central no dia marcado, para receber a tão esperada consagração. Chegando ao templo foi orientado a sentar-se com sua esposa em lugares que estavam reservados para os consagrando. Logo após acomodar-se, vendo o pastor da região onde fora apresentado, saiu para cumprimentá-lo; os dois tiveram alguns minutos de conversa, mais o pastor omitiu a anulação da consagração deste irmão. Resumindo; tudo havia terminado; e a consagração não veio; o chão foi tirado de debaixo dos seus pés, e o que é pior, fora exposto ao ridículo diante de quase três mil pessoas dentro daquele templo. Tais líderes não foram indulgentes com este irmão, não foram clementes, misericordiosos; mais foram arbitrários e despóticos, não dando direito de resposta as prováveis razões que tinham contra ele. O irmão entrou em um estado psicológico e emocional chamado pela psiquiatria de “depressão maior”. Foram longos três anos de uma decadência que atingiram todos os lados de sua vida. Agora medite um pouco sobre este episódio singular, ocorrido na vida de um servo de Deus, e, responda para si mesmo.
O que nosso Salvador e Mestre faria, se ele estivesse no lugar daquele pastor regional? Será que Ele daria ouvido a tais falácias? O Senhor legiferaria sob o irmão de forma tão arbitraria e antecipada?
Não! Claro que não! O Senhor Jesus é justo juiz (Is 33.22).
Nossos pastores precisam voltar-se para Cristo e aprender dele as verdadeiras qualidades contidas no caráter de um pastor ― “Se é que o mesmos realmente tem o chamado para tal ministério!”― Urge dizer que, não basta apenas ter um currículo invejável de experiências acumuladas ao longo dos anos em funções diaconais, presbitério, coordenação, diretoria, administração disto ou daquilo. Não se reconhece qualquer ministério na vida de um homem através de experiências vividas em funções ou administrações eclesiásticas. Mais há quem diga― “Fulano realmente tem chamado para ser um pastor, porque ele já foi diácono por alguns anos e um bom presbítero dirigindo a congregação tal; por isso o pastor regional gostou muito do seu trabalho e o levou a evangelista; logo, logo ele será um pastor” ― “Meu Deus quanta ignorância bíblica e espiritual!” A liderança eclesiástica faz mal uso da Bíblia, interpretando ou fazendo uma eisegese do texto que se encontra em Efésios 4.11:

“E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres.”

Os mesmos dizem que, através deste texto de Paulo, Deus, deixa algo implícito ― Uma escala hierárquica ― ou seja: Todos os que almejam o episcopado devem começar a partir do diaconato, para que a ordem na igreja possa ser mantida. Por favor, não me interprete mal quem estiver lendo este artigo. Claro que eu não discordo de que com o passar do tempo, foi necessário que as comunidades eclesiásticas se organizassem, estabelecendo suas regras estatutárias com a finalidade de manterem a ordem interna. Mais em se tratando de uma interpretação contextual; ao lermos o verso 12 entenderemos que este responde o verso 11, quando Paulo registra que Ele (Jesus), deixou tais ministérios tendo em vistas, não essa AUTORIDADE [Do lat. Auctoritate], que traz o sentido de: Direito ou poder de se fazer obedecer, de dar ordens; Poder atribuído a alguém; domínio ou superioridades ministeriais. Mais sim AUTORIDADE indicando: Permissão, autorização, tomar decisões, direito de ação, Influência, prestígio; crédito, Indivíduo de competência indiscutível em determinado assunto; e partindo desta realidade enunciada visando o “aperfeiçoamento” dos santos para o “desempenho do seu serviço”, para a “edificação” do corpo de Cristo. Paulo enfatiza duas coisas importantes neste texto, edificação (instrução, educação, ensino, informação) e aperfeiçoamento (refinamento, melhoramento, apuro) moral e espiritual. Então quando Paulo registra em alguns textos acerca de sua autoridade, apenas está nos fazendo entender a extensão ou amplitude de sua atuação ministerial e espiritual; levando em consideração o que o texto ensina acerca de tais ministérios.
Por isso Paulo diz:

Porque, se eu me gloriar um pouco mais a respeito da nossa autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação e não para destruição vossa não me envergonharei,” (2 Coríntios 10:8).

Paulo não está falando de um domínio, como alguns, cheios de arrogância andam preceituando por ai, dizendo ― eu faço, eu mando, eu tiro, eu coloco, eu excluo, eu faço o que quero por que eu sou o pastor.
Observe que o “eu” vem sempre na frente; logo, eu tomo a liberdade de criar esta forma lingüística chamando esse mal de Pastorcêntrismo; fazendo uma analogia ao egocentrismo, ou seja, homens considerando o seu próprio eu como o centro de todo interesse, acham que tudo deve estar centralizado neles; obreiros inchados com o seu próprio ego, cheios de vaidade e orgulho, são homens pretensiosos e oportunistas, fazendo uso do nepotismo para proporcionar benefícios a si mesmos. O irmão Judas chama tais obreiros de:

Rochas submersas, que em vossas festas de fraternidade, se banqueteiam juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas;” (Judas 1:12 ).

Se fossemos classificar alguns destes grupos de obreiros, usando termos bíblicos, o chamaríamos de, “Fariseus hipócritas”. E se Paulo estivesse conosco nestes dias, com certeza parafrasearia nosso Senhor, quando em certa ocasião foi de encontro aos fariseus dizendo:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque fechais o reino dos céus diante dos homens; pois vós não entrais, nem deixais entrar os que estão entrando!”
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, mas estes, por dentro, estão cheios de rapina e intemperança!”
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque rodeais o mar e a terra para fazer um prosélito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do que vós!”
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que, por fora, se mostram belos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia!”
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!”
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque devorais as casas das viúvas e, para os justificar, fazeis longas orações; por isso, sofrereis juízo muito mais severo!”
(Mateus 23).

Em minhas meditações sempre há uma infinidade de questionamento em relação a tais obreiros. Será que eles são tão superiores ao ponto de não pecarem? ― “Permita-me um pouco de sarcasmo!” ― Será que eles são anjos disfarçados de pastores?... Ops! Desculpem-me, eu me esqueci que em nosso meio pastor se escreve com letra maiúscula, por ser um nome tão sagrado; afinal de contas eles são os representantes de Deus no meio de seu povo (“Os anjos da igreja”), logo são inquestionáveis, não dados ao erro, e, claro, os únicos capazes de interpretar os ensinos morais e espirituais da bíblia de forma infalível. Aliás, seria bastante sugestivo trocar o título deste artigo: PASTORCENTRISMO, por, PAPASTORISMO.
O nosso Cristo, nunca demonstrou arrogância ou atitudes despóticas; nunca agiu com parcialidade, ou mesmo mostrou ser irascível; mas sempre se manifestou com modéstia e democracia; sempre atuou com imparcialidade e serenidade.
Todos nós, como servos de Deus, sem distinção de funções ou títulos eclesiásticos, mas como apenas membros de sua Igreja santa, deveríamos vistoriar os nossos atos e palavras, para ver se encontramos alguma combinação com os princípios ensinados pela Bíblia. Mais se descobrirmos algo discrepante ou resistente a tais princípios, busquemos então seguir o que o Apóstolo João em sua primeira carta escreveu exortando os da sua época dizendo:

“Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou”.(1 João 2:6 RA).

Este ensinamento é altamente relevante e significativo para os nossos dias como igreja, mais ele está entrando no que eu posso chamar de obsoleto. Mais eu fico a pensar...; "Será que alguns ensinos bíblicos tornam-se realmente obsoletos?! "
Sigamos os ensinos dos nossos Apóstolos e aqueles que nosso próprio Salvador nos deixou, para que nunca venhamos a ser pegos pelo diabo em nossos caminhos espirituais e morais.

EX TOTO CORDE.
13/01/007

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