O Segredo de Crescimento da Igreja Primitiva

ATOS 3. 48-46
Neste pequeno artigo, quero comentar sobre um dos assuntos que estão no ápice das discussões em convenções religiosas e outras. Pastores, igrejas, comunidades e grupos têm se reunido para discutir o fator “crescimento”. Líderes têm se apresentado ao mundo dizendo que são portadores da grande visão que será a alavanca do crescimento das igrejas no mundo. Grandes congressos são preparados para que estes líderes falem de suas grandes visões. A nossa igreja nesta era chamada pós-modernidade está sendo liderada como empresa, onde os seus donos se reúnem com suas equipes para discutirem como e quais metodologias devem usar como estratégia para que cresçam em número, grau, gênero e renda financeira mensal. Líderes que se reúnem para ouvir consultores, conferencistas, psicólogos, etc, como se tal assunto fosse extremamente difícil de compreender, e mais ainda de se executar.

O evangelho não é complicado. O Senhor Jesus não veio confundir ninguém com sua mensagem, muito menos acerca da expansão do seu reino. Ele nos trouxe boas novas muito simples de se compreender. Aliás, a maioria dos seus ouvintes era pobres, leigos, de linguagem limitada, neófitos em relação à vinda do Messias; logo eram necessárias palavras, atitudes e métodos fáceis de recepção.

Alguns pastores precisam voltar-se para o que a Bíblia fala em relação ao crescimento da Igreja. Alguns homens que se dizem pastores precisam entender a simplicidade do evangelho de Jesus.

Alguns pastores precisam entender que a Igreja do Senhor Jesus não precisa de metodologias de qualidade e de crescimento usadas em empresas ou método que façam com que o funcionário tenha a cara da empresa, blá, blá, blá.

Muitos pastores perderam a sua identidade ministerial, e para fazer com que a sua igreja obtenha certo crescimento, andam adotando alguns métodos chulos e sem base teológica suficiente. um exemplo disso são as campanhas de prosperidade, de benção e maldição e quebra das mesmas, do empresário, enfim, há uma infinidade delas por aí rodando algumas denominações.

Alguns pastores perderam sua identidade, já não tem mais as características verdadeiras de um apascentador, pois as mesmas não são mais tão valorizadas. Hoje em dia, quase que de forma generalizada, estão sendo aceitos apenas aqueles homens que carregue um título de pastor, mais o seu lado “funcional” deve ser aquele encontrado em um administrador de empresas que domina bem os números, as planilhas e os fatores somatórios da mesma etc..., etc. Meu Deus que barbaridade estamos vivendo em nossas denominações. Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos faça entender que precisamos voltar aos métodos primitivos e simples dos pais da Igreja. Precisamos retroceder e descomplicar o que nós mesmos tornamos complicado.

Voltemos aos tempos primitivos para fazer uma análise de vários textos bíblicos, e descobrir o segredo que fez com que a Igreja primitiva alcançasse todo mundo de sua época.
Desde quando o Senhor começou o seu ministério na Galiléia, uma coisa se passa sem que percebamos com o devido valor, que é: “Jesus nunca esteve sozinho enquanto fazia a obra”.
Quando eu me deparei com esta realidade fiquei a pensar como eu poderia identificar melhor este fator tão claro na vida de Jesus. Depois de pensar, uma única coisa veio velozmente à minha mente, e eu logo a identifiquei com a expressão “UNIDADE”, algo a muito perdido e desconhecido em muitas igrejas que se dizem “evangélicas”.

Ao buscarmos o sentido etimológico desta expressão, descobri que ela tem o sentido de: (do gr henotes) unidade, unanimidade, consentimento. Também tem o sentido de: uma ou duas coisas que se funde em uma.
Ao buscarmos no "DICIONÁRIO AURÉLIO de Ligua Portuguesa básico", obteremos alguns resultados. Por exemplo:
UNIDADE: qualidade do que é um ou único ou uniforme. Quando nós falamos de qualidade, devemos entender que é um substantivo feminino que fala de: propriedade, atributo ou condição das coisas ou das pessoas capaz de distingui-las das outras e de lhes determinar a natureza, fala de escala de valores, de disposição, função, fala de uma das categorias fundamentais do pensamento, da maneira de ser que se afirma ou se nega.

A expressão unidade é uma excelente qualificação que a igreja deveria estar vivendo; pois ela fala daquilo que não pode ser dividido; homogeneidade, igualdade, uniformidade, ação coletiva orientada para um mesmo fim, coesão, união, aquilo que num conjunto ou numa espécie, forma um todo completo, tropa de soldados destinados a manobrarem juntos.
Será que não deveríamos ficar preocupados, por vermos que nem ao menos dois por cento destas características são vividos no seio da Igreja de Jesus! Deixe-me ao menos lhe causar um pouco mais de perplexidade ao pegar apenas uma destas características da UNIDADE, e traduzi-la para você. Vejamos: Homogeneidade (homogêneo), cujo seu significado é: cujas partes todas são ligadas, cujas partes não apresentam desigualdades, altos e baixos.
Urge dizer que o Apóstolo Paulo, em uma de suas inspiradoras cartas, revela de forma mais profícua esta qualidade da igreja, quando ele escreve aos Gálatas 3.28, que diz:

Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.

Quando Paulo escreveu isto, tinha uma única expressão em mente que era, “unificação”. Ele queria dizer que o povo de Deus estava como um todo se reunindo em um só corpo, tornando-se uno ou único.
Perdoem-me os grandes em ECLESIOLOGIA, Doutores em SOCIOLOGIA BIBLICA ou NOVO TESTAMENTO. Pelo contrário eu amo e busco estudar diligentemente todas as metodologias da TEOLOGIA SISTEMÁTICA. Mas eu não vejo necessário aglomerações de pensamentos hodiernos, filosóficos, e porque não dizer Pós-Modernos acerca de crescimento ou desenvolvimento eclesiástico, pois isto se congloba apenas em uma palavra que eu considero como o platô, a plataforma, o alicerce do crescimento da igreja, que é a expressão supra citado.

Quando meditamos no Novo Testamento, e chegamos em João 17, encontramos Jesus orando pelos discípulos nos versículos 19-23:

E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade.
Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra;
a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.
Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos;
eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim.

Jesus tinha uma coisa em mente, e orava por ela – A perfeição da Igreja – e isto só poderia ser alcançado quando os seus seguidores entendessem o sentido da unidade.
Nesta mesma passagem o Cristo humanizado dá um vislumbre de como a igreja deveria estar unida.

Dentro da Cristologia essa passagem revela algo identificado como “União Hipostática”; esse termo indica que, embora o Pai o Filho e o Espírito Santo sejam pessoas distintas umas das outras em suas manifestações, são todas de uma só essência; a mesma citada refere-se a substâncias separadas, distintas, mas que pertencem a uma mesma essência.

A Bíblia não quer com isto descaracterizar, tirar a personalidade ou extinguir a natureza das pessoas; ao contrário, a Palavra de Deus respeita este lado do ser humano e até o ajuda a dominar-se em alguns momentos através da “temperança”. Todos sabem que, vez em quando algumas reações de nossa natureza humana não nos trazem nenhum benefício, logo é necessário contarmos sempre com os frutos do Espírito Santo para nos ajudar.

Aproveito e tomo a liberdade de falar com todo respeito e temor no Senhor, não com voz de crítico, mas com voz de exortador ( claro que entendo o sentido real da expressão) de alguns sociólogos, psicólogos, psicanalistas que estudam a mente e os comportamentos humanos, e de cooperadores que já leram algo a respeito, quando dizem que a natureza, o caráter, a personalidade, a opinião e modo de pensar disto ou daquilo, não pode ser mudado, pois como os mesmos já dizem; Deus fez o homem assim, diferentes uns dos outros, é próprio do homem, está impregnado dentro dele, logo ninguém tem a obrigação de concordar com o pastor regional, presbítero ou dirigente deste ou daquele conjunto em relação a qualquer coisa imposta ou transferida ao grupo ou à igreja". Os que pensam tais coisas estão equivocados e, parafraseando Paulo, eu digo que estão como homens naturais, que só entendem de coisas em nível humano, não discernindo assim as coisas do Espírito de Deus.

É urgente dizer que, em se tratando da Obra de Deus, as ideologias formadas a nível superior, as opiniões formadas por pastores e líderes, enfim, todo esse compêndio elaborado por mestres e doutores, devem ser literalmente anulados por ser algo paradoxal ao que a Bíblia ensina acerca do trabalho que realizamos para o Senhor.
Nós, servos do Senhor, podemos sim, divergir uns dos outros em algum assunto que envolve a vida secular, ou algo de mesmo nível, podemos manter posição ou defender nossa teses; mas nunca nos dividir, ou nos tornarmos sectários da obra do Senhor.

Paulo disse em uma de suas cartas escritas aos Rm 16.17-18 que, não deveriam notar, ou seja, dar ouvidos aos que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprenderam.
Nós lemos muitas coisas na Bíblia, mas não entendemos o significado de algumas expressões que lá encontramos. Um exemplo disto é a palavra dissensão que em seu sentido etimológico, quer dizer: divergência de opiniões ou de interesse, desavenças ou oposição.
Paulo vai ainda mais além; ele roga, ou seja, suplica aos irmãos de Roma, para se desviarem deles, pois os tais não servem a Cristo nosso Senhor, mas ao seu ventre.
Se estes que estão lendo este artigo são amantes das Escrituras, conhecem de có e salteado a história do Êxodo de Israel; e os mais curiosos devem ter buscado descobrir o motivo pelo qual todo Israel (menos dois), não entraram na terra prometida por Deus.
Muitos pregadores e estudiosos dizem muitas coisas, mas percebi que, a “murmuração” foi o único motivo que os levou a peregrinar por quarenta anos naquele deserto; e olha que era uma caminhada que se dava durante o dia debaixo de um sol tão causticante que chagava aos cinqüenta graus; por isso era necessário que Deus os refrescasse com uma coluna de nuvem durante o dia, sem falar das tempestades de areia que torna quase impossível a respiração; sem contar o frio insuportável durante certas horas da noite.

Agora imagine que cena dramática. Um povo em número de quase três milhões, sofrendo no espaço de uma geração, por causa de reclames, queixumes e murmurações; a ponto de Deus os chamar de nação ímpia, povo mal e rebelde.
Muitas coisas são más aos olhos de Deus, e uma delas é a murmuração. Essa pequena expressão tem um peso muito grande em seu significado, pois fala de “conversinhas em voz baixa, censurar ou repreender disfarçadamente e em voz baixa, dizer mal, maldizer, conceber mau juízo, falar contra alguém ou algo, criticar, conversar difamando ou desacreditando, sussurrar, soltar queixumes, lastimar-se em voz baixa, resmungar, apontar faltas e outros”.

Eu creio que seja por isso que Deus tem aversão à murmuração, afinal são tantos significados grotescos contidos em uma mesma expressão. Deus queria abençoar o seu povo, mas por causa deste pecado os fez peregrinar em círculo pelo deserto por quarenta anos.
A murmuração é um dos meios mais infamantes, deplorável e desafortunado de todos. Quem murmura nunca conseguirá avançar, não haverá prosperidade na vida de tal (is) pessoa (s). O murmurador sempre estará preocupado com o dia de amanhã, é ocioso, mal agradecido e mal humorado; não conhece o Evangelho segundo escreveu Mateus 6.25 em diante; e, é claro, Filipenses 4.6.
Já na Igreja primitiva havia algumas características peculiares que os levou a crescer e ganhar almas para o Senhor Jesus.
Farei menção aqui de algumas que julgo mais importante:

Perseveravam nas doutrinas dos Apóstolos.
Eram homens e mulheres que confiavam nos ensinos de seus líderes, acreditavam que o que vinha da parte deles eram proveniente do Senhor.
A Igreja não ficava discutindo ou colocando em jogo a seriedade, o caráter, a idoneidade ou o chamado ministerial de seus pastores. Todos, sem exceção, perseveravam em tudo que aprendiam dos Apóstolos, isto é, conservavam-se firmes e constantes nas doutrinas.

Perseveravam na comunhão.
Quando se trata deste assunto, eu percebo que os cristão são muito rasos no conhecimento da expressão. Esta expressão vem do verbo “comungar”, que tem o sentido de: ser participante nos mesmos ideais, pôr-se ou ficar em contato, ligado ou unido nas mesmas crenças e opiniões. Comungar está intrinsecamente ligado ao viver de forma fraternal uns com os outros, era isso que o Salmista propôs quando escreveu o Salmo 138, quando dizia:
“Oh! Quão bom e suave é que os irmãos vivam em união”.

Infelizmente, neste século 21 esta é uma conduta que pouco se vê na praticidade de vida, em nossas comunidades eclesiásticas. A maioria dos crentes não sabe mais viver fraternalmente uns com os outros; estão completamente envolvidos pelo secularismo; as suas mentes estão invadidas pelos problemas do dia a dia. Há uma preocupação exacerbada em alcançar uma posição perante a sociedade. Os mesmos se tornaram verdadeiros sectários e andam tão estressados com preocupações mundanas e secularistas que se tornaram intolerantes uns com os outros, tornando-se partidários ferrenhos dentro de suas próprias comunidades.

Em cada alma havia temor.
Esta palavra está mais ligada ao sentimento de reverência e respeito por algo presenciado. Eram evidentes os atos e as ações de Deus na vida da comunidade. Quando algo assim acontece, as pessoas percebem que realmente há um diferencial, uma singularidade na vida dos crentes, as pessoas passam a sentir temor por constatarem a presença de Deus no meio do seu povo, At 3.43. Para que Deus se manifestasse daquela forma era necessária alguma ação por parte dos crentes; a saber; orações, jejuns, santidade, temor e, é claro, unidade. Isto se nota na afirmação da frase “em cada alma”; nos fazendo entender que todos sem exceção buscavam e faziam a mesma coisa.

Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.
Este texto de At 2.45 é bem claro quando nos montra o cuidado que, nós, irmão em Cristo, devemos ter uns com os outros, todos eram iguais em tudo, nenhum deles sentia falta de nada, não havia entre eles famintos, sem teto, nudez. A desigualdade social era algo extinto no Ceio da Igreja. Se eu fosse mais fundo neste texto, iríamos analisar a questão da “renuncia do crente”, que também deixaria muitos cristãos abastados em dificuldades diante de Deus. At 4.32.

Comparando a igreja desta era pós-Moderna, com a igreja do primeiro século, chegamos ao ápice do que entendemos como sendo “paradoxal”.
Mas se nos estamos falando da Igreja do Senhor, e se estes textos supracitados, em seu sentido interpretativo são realmente literais..., Então onde está o erro...!? Ora o erro está em nós mesmos. O erro está na soberba de nossos corações, no nosso individualismo, na nossa falta de amor fraternal, na nossa falta de compaixão uns pelos outros, na nossa vida egoísta, na nossa religiosidade e na nossa vã maneira de viver somente por palavras em detrimento das obras. Por fim, vivemos com tantas máscaras que algumas delas estão caindo e, só nós é que não estamos percebendo, enquanto que o mundo e seu sistema têm visto estas máscaras caírem, e com isso zombam do povo de Deus.

Santos do Senhor peçam a Deus que abra os olhos do nosso entendimento, para que possamos entender o que a palavra de Deus que nos ensinar e não deixemos de lado nenhuma de suas orientações; assim fazendo viveremos melhor em comunidade. Uma comunidade que Cristo tinha em mente e lutou para que fizéssemos parte dela – A Igreja – Esta vida eclesiástica não é utópica; ela pode ser vivida na sua totalidade.

Com esperança eu peço a Deus que nos ajude a fazer parte da historia da Bíblia.
Devemos viver o Evangelho como ele é; simples, autêntico e fácil de se compreender.

Espero que a mensagem contida neste artigo tenha sido benção para a sua vida e, que você passe a ser ou continue sendo um instrumento de edificação e não de divisão em sua comunidade cristã.

EX TOTO CORDE
Cícero F. de Souza

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