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"Escândalo e os Escandalizados"

Escândalo no dicionário português é definido como mau procedimento; mau exemplo; ato reprovável. Escandalizar é melindrar; ofender; agir de forma indecorosa e vergonhosa. Que no conceito popular o escândalo não é algo benéfico e caritativo todo mundo sabe. Cristo nos ensinou sobre o perigo de escandalizar alguém. O Mestre dos mestres foi categórico em afirmar: “É impossível que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vierem! Melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma pedra de moinho, e fosse lançado ao mar, do que fazer tropeçar um destes pequenos.” (Lc 17.1,2). Este versículo desdobra-se em dois pontos: em primeiro lugar, os escândalos são inevitáveis; e em segundo lugar, haverá um juízo austero e inflexível sobre aqueles que o cometem. A pedra de moinho era usada para triturar grãos, em outras palavras, Cristo disse que uma morte horrível - neste caso, enforcado e afogado concomitantemente - era preferível ao invés da prática do escândalo. A palavra skandalizõ no original é traduzida por ofender, fazer tropeçar, ferir a consciência de. Ao meditar neste tema, sinceramente, fiquei com medo, talvez até excessivo, de escandalizar alguém.. Evoquei perguntas. Quais são os limites do escândalo? Todo escândalo é negativo e atrai juízo? Afinal de contas, tem gente que se escandaliza por tão pouco?No Brasil, as igrejas evangélicas diferem em muito o modo de entender e interpretar textos e referências bíblicas (Prefiro utilizar referências à doutrinas). Como cristão, às vezes sinto-me entre a cruz e o punhal. Uma coisa eu sei: tenho medo de escandalizar as pessoas. Alguns se escandalizam pelo excesso religioso, outras pelo liberalismo religioso; alguns com a frieza litúrgica e outros pelo fervor no culto. Tradicionais, pentecostais e neo-pentecostais estão distantes de um possível consenso, esperado por alguns e resistido por outros. Às vezes o certo para um é o errado do outro e assim vice-versa. E o relativismo filosófico presente no mundo contemporâneo complica ainda mais esta situação. È bem verdade que o cristão se baseia na Bíblia, e esta naturalmente, é composta de absolutos, porém, em alguns pontos, a Bíblia, que tem por objetivo apresentar o plano da salvação ao homem, deixa de se posicionar de forma explícita, o que consequentemente abre espaço para especulações e modos de interpretar que rumam para nortes diferentes, alguns chegam a beirar o extremo. O resultado deste movimento são as inumeráveis denominações evangélicas que temos no Brasil. Neste terreno íngreme e sinuoso a prática do escândalo se torna cada vez mais comum. Jesus falou sobre a inevitabilidade do escândalo e quando olho para a situação do Brasil, entendo o cumprimento desta profecia.Meditando sobre este assunto, percebi que o mesmo Cristo que advertiu sobre o perigo do escândalo foi motivo de escândalo. Que paradoxo! A Bíblia relata que os conterrâneos de Jesus se escandalizaram nele (Mc 6.3). Paulo afirma que a pregação do Cristo crucificado é escândalo para os judeus e loucura para os gentios (I Co 1.23). O próprio Cristo chegou a dizer que os discípulos se escandalizariam nele (Mt 26.31). No momento em que Cristo foi preso, sentenciado e crucificado os discípulos se escandalizaram. Embora tivessem sido advertidos, não esperavam o ocorrido. A consciência dos discípulos foi ferida, tropeçaram e enfraqueceram por não compreenderem aquele evento tétrico e calamitoso, todavia fundamental e frutífero. Depois de certo tempo, após o Cristo Ressurreto mostrar-se vivo e glorificado, os discípulos perceberam a magnitude da Sua morte e a eficácia de Seu sacrifício. As verdades que antes estavam obscurecidas, agora foram esclarecidas. Na tentativa de estabelecer os limites do escândalo, podemos exaurir uma grande lição do caso que envolveu Jesus: o problema não estava no pivô do escândalo. Cristo jamais errou por escandalizar os discípulos, os seus conterrâneos e os judeus. A falha era na insuficiência de maturidade daqueles em compreender os desdobramentos do ministério messiânico de Cristo. Glória a Deus! Senti-me aliviado depois desta análise. Nem sempre o agente principal do escândalo é o culpado. Esta reflexão embora confortante constitui-se melindrosa. Por quê? Há aqueles que munidos desta apreciação viverão as suas verdades sem se preocupar com o entendimento dos outros. Afinal, é muito fácil isentar-se do erro e culpar a falta de maturidade do próximo. Tal reflexão invoca o argumento Paulino.Paulo é o teólogo neo-testamentário que mais discorre sobre a temática “escândalo”. Talvez, porque tinha a experiência de sentir-se escandalizado. Quando ainda era fariseu, interpretava o ministério de Jesus Cristo por um viés diferente. Depois do encontro na estrada que ligava Jerusalém a Damasco, sua visão foi esclarecida, as escamas espirituais que bloqueavam a sua visão caíram e Paulo viu-se liberto das amarras da ignorância e da distorção da verdade. Somente alguém que experimentou o gosto amargo do escândalo para pontuar com clarividência sobre este tema. A teologia Paulina baseava-se no conceito de que o escândalo deveria ser evitado o máximo possível. Ele escreveu aos corintios: “Porque sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos, para ganhar ainda mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para com os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns. E eu faço isso por causa do evangelho...”. Paulo mostrou que seu comportamento se esmerava em lutar para ser o exemplo dos fiéis, em decorrência disto, procurava canalizar todos os esforços para não escandalizar ninguém. Entretanto, sabe-se que na teoria a prática é outra.A questão do escândalo é tênue e sobremaneira melindrosa. Dois baluartes da fé no primeiro século da igreja tiveram um sério problema por causa disto. Paulo e Pedro chocaram-se em torno deste contexto. O encontro foi em Antioquia. Pedro estava comendo com os gentios juntamente com Paulo e Barnabé quando uma comitiva da parte de Tiago chegou onde eles estavam reunidos. De repente a postura de Pedro mudou radicalmente, apartando-se deles, esteve o tempo todo com os judeus, pois temia que estes se escandalizassem em vê-lo comendo com os gentios. Paulo argumentou na epístola aos Gálatas que “resistiu Pedro na cara” (Gl 1.11) porque “não andou conforme a verdade do evangelho” (Gl 1.14). A Bíblia declara que até Barnabé, homem instruído na Palavra seguiu o exemplo de Pedro. Paulo definiu esta atitude como um ato dissimulado. Qual seria a defesa de Pedro sobre este incidente? Temos apenas a versão de Paulo. Para muitos estudiosos, Pedro estava levando em consideração os irmãos mais fracos, que, nesse caso, eram os de Jerusalém, o que torna a sua atitude perfeitamente tolerável. Parece que foi assim que Tertuliano - Pai da Igreja - entendeu esta questão; ele chega a sugerir que foi a imaturidade de Paulo que o levou a criticar Pedro. O próprio Paulo se tornara “tudo em todos; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse sujeito a Lei” (I Co 9.20). Alguns advogam que Pedro apenas estava tentando evitar escândalos, o que representava uma atitude bem comum a Paulo. Há quem entenda que Pedro preocupou-se apenas com a sua imagem. O fato é que se tentou evitar um escândalo, acabou provocando outro, mesmo que inconscientemente.A situação do escândalo não será facilmente mapeada. Conforme o meu professor de filosofia no seminário dizia: “questões complexas exigem respostas complexas”. Se até Pedro e Paulo chocaram-se sobre este tema e não o resolveram, não serei a pessoa a desvendar este enigma teológico e prático (Até gostaria, mas reconheço minhas limitações e a profundidade do tema). Mas, posso dizer que algumas lições apareceram ao longo desta reflexão. Em primeiro lugar não podemos generalizar a questão do escândalo e sentenciar o infrator a condenação. Nem todo o escândalo é necessariamente negativo. Destacado este posicionamento, vale fazer uso, do pensamento Paulino em que “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me convêm” (I Co 6.20). Infelizmente, convivemos com cristãos imaturos e frágeis. Alguns se abalam por conta de pouca coisa. Ainda não se converteram. Estão em processo de transformação. Outros se estagnaram ao longo do processo e permanecem meninos no que tange os assuntos relacionados à fé. Paulo ensinou que “nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós, deve procurar agradar o próximo” (Rm 15.1). Na caminhada cristã, existem os fracos e os fortes. Segundo Paulo, os fracos são aqueles que se escandalizam com facilidade (Rm 14.2). O triste da história, é que os fracos se acham fortes por conta da abstinência. Grande ilusão! Às vezes, o “santo” é o frágil. Peço a Deus que dê maturidade ao seu povo. Sonho em ver os crentes flexíveis quanto às diferenças, mas intolerantes em relação ao pecado. Sinceramente, não vejo pecado em tantas coisas classificadas por muitos crentes como errado, não as pontuarei porque não quero escandalizar ninguém.

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