Pr. Cícero de Souza x igreja brasileira de 2020

Tenho por demais me preocupado com uma matéria que saiu na Revista ÉPOCA em 22/05/2009 por Nelito Fernandes.
Tal matéria prevê através de antropólogos e teólogos que “os evangélicos não vão apenas mudar a sociedade brasileira. Eles mudarão com ela.” A mesma relata que segundo a antropóloga Christina Vital, do Instituto de Estudos da Religião (Iser), diz que a igreja evangélica caminha para uma flexibilização. “Enquanto a Igreja Católica vai dizendo ‘não pode camisinha’, a igreja evangélica vai se adaptando à sociedade. Essa flexibilidade é justamente o fator de crescimento deles”, afirma. A antropóloga ainda diz que, “O movimento adapta-se aos costumes, o que deverá continuar nos próximos anos. Hoje já temos igrejas evangélicas que aceitam gays”.
o antropólogo Ari Pedro Oro, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especializado em religião, diz que lá pelos idos de 2020 o Brasil não será como os Estados Unidos, “um pais onde a moral conservadora é parte da crença e do culto”, . “A religião foi abrasileirada. Não tem um foco tão grande no moralismo”. Tal matéria ainda afirma que nas favelas do Rio de Janeiro, pastores e traficantes convivem lado a lado. Os delinquentes respeitam os líderes evangélicos e atendem apelos eventuais. Mas o tráfico continua. E mata.
Se algumas atitudes e fatos que ocorrem no meio evangélico preocupam muitos líderes evangélicos, considerando sua incoerência com princípios cristãos, imagine algumas situações que teremos de enfrentar pelos anos de 2020. Percebe-se que os cristãos cada vez mais estão se tornando nominais, são cristãos apenas no nome, vivem uma realidade que não condiz com suas posições eclesiásticas ou cristãs. Hoje em dia há pessoas de diferentes igrejas, pessoas que se batizam, fazem suas profissões de fé, outras crescem em um ambiente eclesiástico, mas infelizmente tais ambientes não promoveram nenhum tipo de transformação em suas vidas. Há pouca ou nenhuma diferença em suas vidas em relação aos demais membros dessa sociedade vigente. Ao estudar algumas particularidades da história do protestantismo, lembro-me de um evento ocorrido em 1974, “O congresso internacional de Evangelização Mundial” realizado em Lausanne, Suíça, que definiu uma boa parte desses cristãos que andam por aí como “cristão nominal”, ou seja, aquele que “intitula-se cristão, mais não tem um relacionamento autêntico com Cristo com base na fé pessoal”. “Esse relacionamento envolve uma convivência transformadora em Cristo”.
Em Tg 1.19-27 o autor nos desafia a praticarmos o que se ouve na palavra de Deus. Hoje em dia nos reunirmos é bom, prazeroso, é bonito e nos traz um conforto social muito agradável. Contudo, todas essas coisas vêm saindo sem nenhum resultado prático. Se esta é uma realidade que nós enfrentamos hoje, imagine o que será da igreja daqui a vinte anos.
As palavras dos antropólogos e teólogos me trazem um amplo desassossego quando afirmam que nós “os evangélicos não vamos apenas mudar a sociedade brasileira, más mudaremos com ela”.
Se avaliarmos bem esta afirmação, veremos que parte dela é totalmente incoerente com o que nos ensina as Escrituras Sagradas, já que parte dela diz que “mudaremos com a sociedade”. Eu não acredito que um servo de Deus foi chamado para se adequar ou ajustar-se a uma sociedade corrupta e desmoralizada. Se qualquer comunidade evangélica ou grupo agirem assim, estarão no mínimo deformando preceitos e normas estabelecidas desde a manifestação de Deus ao homem. A antropóloga Cristina Vital usou expressões como “adaptação e flexibilização”. A pergunta é: Pode um cristão adaptar-se a costumes levianos e valores morais deturpados que se baseiam no hedonismo e nos novos conceitos da pós-modernidade? Pode um cristão que tem seus valores morais baseados na Palavra de Deus, ser tão flexível ao ponto de concordar com práticas homossexuais dentro de sua comunidade ou igreja? Terminantemente eu recuso-me a aceitar essa nova postura que a igreja vem tomando. Recuso-me a aceitar uma igreja brasileira que, segundo o antropólogo Ari Pedro Oro, “não tem um foco tão grande no moralismo”. Um grupo cristão que não considera os aspectos morais na apreciação dos atos humanos perdeu em muito seus valores éticos bíblicos. Tal atitude é no mínimo deixar seu foco cristocêntrico, substituindo-o pelo antropocêntrico.
Eu me entristeço muito com tal afirmação, pois em outras palavras, estão querendo dizer que, a igreja já não dará mais valor ao brio ou a vergonha. Os bons costumes não terão mais tanta importância em nosso meio, a moral que tem uma estreita relação com o domínio espiritual está dando lugar ao que é material e físico.
É muito triste saber que estudiosos totalmente alheios ao que é “espiritual e santo” estão conseguindo identificar esse sintoma mórbido que vem atingindo a igreja. Enquanto isso, nós pastores, líderes, membros do corpo de Cristo, estamos nos fazendo de cegos. Estão tentando atrair e provocar a conversão das pessoas através de eventos e atrações como, shows, entretenimentos eclesiásticos e outros. Os púlpitos de igrejas estão se transformando em palanques de danças e de shows. A mensagem de arrependimento, de salvação em Jesus Cristo e de sua vinda vem dando lugar a mensagens de auto-ajuda e de supervalorização do homem. A igreja vem se transformando em uma espécie de clube com gostos e entretenimentos variados, como em uma disputa frenética para ver quem consegue mais associado.
Hoje podemos escolher como em um cardápio qual delas se encaixa mais em nossos gostos. Já existem igrejas que se preparam com distrações para receber pessoas de classe média, alta ou classe baixa.
Eu estou cansado com todas estas coisas.
Eu estou cansado de ouvir frases como: “Na minha igreja permite fazer isso, você não que ir para lá!? A sua igreja é muito conservadora, na minha já foi liberado, meu pastor é uma benção, ele não liga pra nada, para ele o que importa é que você esteja freqüentando a reuniões. O lema de muitos lugares como esse parece ser “Venha como está e fique do jeito que entrou”. As lideranças eclesiásticas evitam pensar em tais problemas que contrafazem a igreja atual; entram em fuga quando são movidos a discutir ou promover debates sobre o assunto. Muitos líderes não estão se importando com a cara da igreja evangélica daqui a vinte anos. Uma igreja verdadeira deve se preocupar com sua vida espiritual e não só com seu lado social ou de entretenimentos. A fé vem sendo trocada por motivações positivistas e inferências emocionalistas. As mensagens que falam para o pecador e sua falibilidade diante de Deus, deram lugar à mensagens que apontam e incentivam as pessoas a pensar que são super crentes ou pequenos deuses. O otimismo vem tomando cada vez mais lugar na boca dos crentes, assumindo o lugar da fé e da esperança. Em Lc 18.8 Jesus nos dá uma advertência em relação à fé do “amanhã...”.
É deprimente e me faz sentir um frio na barriga quando penso nas características da igreja de anos vindouros. Definitivamente, não me sinto alegre com as estatísticas apresentadas pelos estudiosos quanto ao crescimento evangélico e suas influências para 2020. Acredita-se que tal crescimento e estatísticas tem seu lado sombrio, pavoroso e sinistro, considerando as muti-faces da igreja atual.
Não podemos receber tais estatísticas com bons olhos. Não podemos considerar isso como bom para o povo evangélico. Devemos repensar nossos alvos, nossas atitudes e formular novas estratégias, nos preparando para não incorrermos no mesmo erro de muitos e, entrarmos em um ciclo vicioso de apostasia.
Devemos lutar enquanto pudermos para que nossas igrejas não se mundanizem, deixando valores secularizados tomarem o lugar de nossos princípios bíblicos.
A Igreja que o Senhor Jesus fundou deveria servir de espetáculo e atração para o mundo, e não ser atraída por esse sistema pecaminoso e corrupto que a cada dia ofende mais e mais a santidade do Senhor.
O Senhor escolheu um povo para ser santo, zeloso e de boas obras. Isto significa que devemos ser um povo diferenciado em termos de costumes, procedimentos morais, sociais e espirituais.
Serei sempre um opositor ferrenho, uma voz que clama um pregador que exorta, um mestre que ensina e um pastor que orienta, falando a verdade que está por trás de uma beleza dissimulada e superficial.
Serei contra os evangélicos de 2020 se os mesmos se formarem seguindo os passos de alguns evangélicos de nossos dias.

ex toto corde. 17/06/009

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